O ensino na atualidade atravessa um momento ímpar em sua história e enfrenta paradoxos, sendo, talvez o maior deles, a necessidade de em meio às incertezas que rondam a sociedade e à busca de conhecimento sobre este panorama, construir claras opções institucionais. A condição social pós moderna impõe à prática educacional um número bastante expressivo de demandas, responsáveis por obrigar os educadores a revisarem e renovarem, permanentemente, o seu entendimento acerca dos sentidos da educação que defendem e executam.
A escola, organizada nos moldes tradicionais e tecnicistas, não atende às exigências constituídas hoje, pelo avanço da sociedade, no que diz respeito aos conhecimentos que devem compor a formação dos alunos. Não mais se sustenta a fragmentação do conhecimento, acentuando-se, ao contrário, a necessidade de uma formação de caráter mais geral.
Deve a escola formar o cidadão multicompetente, curioso, capaz de reunir e transferir recursos, conceituais e de procedimentos, que lhe permitam criar suas próprias saídas aos desafios enfrentados. A imprecisão, a mutabilidade e as incertezas do nosso tempo devem levar a escola a trabalhar com a dúvida em lugar das verdades absolutas.
As habilidades requeridas pelo impactante avanço das tecnologias e das novas formas que o trabalho vem assumindo, impõem a exigência de uma maior competência dos educadores para entenderem e interpretarem informações, o que implica o domínio cultural sobre as diferentes áreas do conhecimento e das relações existentes entre elas.
Hoje, os educadores e as instituições de ensino são chamados a refletirem sobre as habilidades e as competências inalienáveis à formação das crianças e adolescentes, o que implica, necessariamente, pensar na competência dos profissionais de educação.
Alteram-se as condições de trabalho e os padrões da profissão. A exigência define-se, hoje, sobretudo, pela constituição de um educador com um perfil próprio, contudo, capaz de metamorfosear-se, tendo em vista as contingências do contexto no qual se desenvolve a ação, sem que com isso venha a colocar em risco os princípios éticos inerentes à sua profissão. Novas habilidades cognitivas, sociais e relacionais são requeridas a todos, quase como condição sine quae non de sobrevivência.
Mais do que nunca, o educador não pode ser considerado somente como aquele que "dá aula". Sua ação não se esgota nos limites das quatro paredes da sala de aula e, nela, não se apresenta somente como representante do ofício escolhido, mas como a pessoa que é composta de saberes, experiências, dúvidas, aspirações, conflitos, entre outros. Não se separa o educador da pessoa.
A formação, entendida na perspectiva da promoção de transformações e não simplesmente como oferta de um instrumental técnico a ser utilizado, perpassa diferentes momentos e dimensões do educador, implicando-o como pessoa e como história de vida, que se integram e compõem a sua identidade profissional. Para Nóvoa13, "a formação é um ciclo que abrange a experiência do docente como aluno (educação de base), como aluno-mestre (graduação), como estagiário (práticas de supervisão), como iniciante (primeiros anos da profissão) e como titular (formação continuada)".
Na atualidade das exigências impostas à educação, para o professor, não basta ter o domínio do conhecimento específico do que ensina e ser, como lembra Canário14, um "magister" ou devotar-se a entender e atender a criança através do conhecimento necessário à leitura de suas necessidades e ser, enfim, um "pedagogo". Na verdade, o que é necessário hoje, mais do que nunca, é a presença de um "animador", ou seja, de um profissional ciente e implicado na dinâmica viva da escola, o qual, além da dedicação ao conhecimento e ao aluno, possua uma visão sistêmica do espaço onde atua.
A competência, solicitada aos educadores, parece ir bem além daquela referida aos saberes específicos às áreas do conhecimento. A estes se devem somar o conhecimento e a capacidade de lidar com o aluno, de trabalhar a informação que chega à sala de aula por vias diversas, de responder às expectativas inerentes a uma nova abordagem do currículo, tanto no que diz respeito à seleção e ao tratamento conceitual e integrador de conteúdos, quanto ao tratamento metodológico adotado. Exige-se, portanto, um profissional com saberes diferenciados e com sensibilidade para disponibilizá-los adequadamente.
A competência dos profissionais de educação parece referir-se ao conjunto de características que o educador, sintonizado com as questões do seu tempo/espaço histórico, possa vir a reunir para o desempenho de sua ação pedagógica educacional. A par de um conhecimento técnico, é inalienável agregarem-se atitudes pessoais de respeito e vislumbre do outro, de compartilhamento e participação no coletivo de trabalho, de abertura à crítica e revisão de suas ações e conceitos, de coerência e retidão frente aos valores defendidos, tudo isso aliado a uma consciência crítica do educador sobre a realidade na qual se inscreve a sua prática, aquela da escola e a existência de seus alunos.
Na medida em que essa condição de saber, em todos os níveis, não é e nem poderia ser definitiva, sobretudo hoje, numa existência caracterizada por uma estabilidade precária, entende-se porque a competência, e igualmente a formação, não podem ser conquistadas de uma vez por todas em um processo terminal, mas, antes, como aquisição complexa, diversa e exigente, inscrita num tempo muito mais longo.
A mudança educacional depende dos educadores e da formação que possam ter, mas não só. Dependerá, também, das transformações possíveis a serem operadas no sistema de ensino, sobretudo, em nível das suas organizações e de seu funcionamento.